terça-feira, 26 de setembro de 2023

Pantufa

Da esperança ao sentimento de desdém 
Um acaso encontro, um segundo apenas
Tornando-se desencontro
Onde tão intimamente conheceras
E entendo então a negativa
Porque bem sei que não sou atrativa
Não sou quem se apresenta
Não sou namorativa
Mulher pantufa que o diga
Ficar, só de forma escondida, 
Pra não causar vergonha
Seja da idade, do jeito, da aparência 
Nada que já não esteja acostumada
Nada que sempre não cause dor
Hora de prazer passada, 
realidade encontrada, dissabor.

Jenny Faulstich 
(Resende, 22/09/2023)

Saída

Aos poucos vou me esquecendo
de detalhes do seu rosto.
E de pensar que tinha em mente decorada
sobre cada pintinha, cada marquinha,
o formato e gosto da sua boca.
Seus olhos outrora tão definidos
se perdem na minha memória feito revoada.
Do abraço na janela ao toque do violão,
não sinto mais do que notas bem distantes
quase que inaudíveis, sussuros destoantes.
Em breve será como eu já lhe fui,
nunca nem existi de tão insignificante.


Jenny Faulstich 
(Resende, 16/08/2023)

"In the ghetto"

Seu jeito lento e enrolado de falar já meio alto
e de ficar preocupado com o que eu escrevo,
sendo que você compõe, então qual é a diferença?
Você até disse que se eu quiser, me faz uma música,
mas ela tem que vir porque você quer, não eu,
embora você já tenha até me dado o nome.
Eu hein, engenheiro sem controle do controle,
rindo horrores, se divertindo enquanto procura,
entre tantas, a sua preferida do Elvis,
"In the ghetto", que não me esqueço.
E seu niver chegando, eu consciente 
de que seu presente vai ficar na gaveta
de calcinhas, meias, utensílios íntimos,
amores insurgentes e encontros de veneta.

Jenny Faulstich 
(Resende, 18/07/2023)