sábado, 25 de fevereiro de 2023

Camomila

Acostumada a ser substituída, dispensada!
Sempre insuficiente, exagerada, desajustada,
nem o chá que tomo agora está quente.
Isso não deveria mais me abater,
mas a cada vez que alguém me escracha
em algum momento a deprê me amassa.
Seguro a onda enquanto posso
até que um nó que aparenta simplório 
encosta num fio onde não deveria haver
só esperando a hora de prorromper.
Isso também não deveria me abater,
mas sempre nessa ordem que acontece,
resisto, reflito, não minto, confio,
acolho, ouço, agrego e me recolho
a minha insignificância permanente
já que aqui é somente eu, nunca a gente.

Jenny Faulstich 
(Resende, 25/02/2023)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Sempre assim

Sempre assim, nunca afim,
quando eu acho que está tudo bem,
quando penso que o ritmo é assim
sinto fluindo a dança do salão 
até que tropeço em egos, dúvidas, ecos
de um passado desusual e convexo
de traumas e ansiedades intratadas
de um controle inexistencial.
A melodia pausada é brutal,
vozes e passos descompensados
não sabem mais o que é real
já que certos receios disciplinam desejos
como se fossem algo racional
a se pesar em balanças desajustadas 
de virtudes, vantagens, feitos e defeitos.

Jenny Faulstich 
(Resende, 24/02/2023)

Alegria insustentável

Tem alegria minha que não se sustenta sozinha
Preciso de uma mão, um querer, um esforcinho
Às vezes até vem, sem o alicerce que favorece
Tudo então desmorona antes que eu perceba
Que talvez seja um luxo que eu não mereça.

Jenny Faulstich 
(Resende, 24/02/2023)

Determinado

Encontrado em desencontro
Resgatado do próprio abandono
Cuidado, ressocializado
Confuso, porém determinado
Em muitas bocas focado
Mais um na ponte, atravessado!

Jenny Faulstich
(Resende, 27/01/2023)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Não

Não, não estou remoendo seu não
Não estou me iludindo não 
Nao criei um pouco de expectativa 
Não consigo, não posso, não devo
Mas quero, quero muito
Quero o desassossego 
Desse beijo aflito e generoso
Do homem, um garoto,
Do sorriso gostoso
Do último não
Não vou pedir de novo, não.

Jenny Faulstich 
(Resende, 17/02/2023)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Só havia

Só havia ele
e ele sabia!
Sabia o poder que tinha.
Curtia quando eu lhe dava a importância 
que eu achava que ele merecia.
Eu esperei, esperei até que me mexi,
tropecei na minha expectativa,
me esborrachei, me quebrei inteira.
E pra quem só via ele pela frente,
de repente tantas mãos, tanta dessintonia,
fosse noite, madrugada, dia,
até o resgate, uma eternidade.

Jenny Faulstich 
(Resende, 14/02/2023)

Hoje não teve beijo de boa noite

Hoje não teve beijo de boa noite 
Aos poucos as mensagens deixam de chegar
A memória retoma a história 
De que ninguém vai me amar
Talvez porque eu dance esquisito
E porque eu manco, dependo e aparento
Não calce sozinha meu sapato
Não me calo, ou sumo, desapareço
Crio expectativa num alento
Me compadeço no combo conexão e apreço
Volto a chorar sozinha, sem adereço
Ritmada, desmotivada, sempre rejeitada.

Jenny Faulstich 
(Resende, 07/02/2023)

Sabe-se lá

Estaciono em frente ao lar
Não sei se quero entrar
Mas também não vou mais sair
Sem ter algum lugar pra ir
Sem ter alguém pra me encontrar 
Com tanta coisa pra pensar
Juntos, longe, inexistente
Sabe-se lá mais do que sou carente
Um afago apenas eu queria
Na alma, corpo, só uma companhia.


Jenny Faulstich 
(Resende, 12/02/2023)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

"Noite sem fim"

Se tem algo na vida que temo é ser injusta
e o trauma brota como reação,
não só memória consciente ou não.
Me machucaram uma vez, duas, três,
eu vou tentar me defender constantemente.
Mesmo assim, uma hora a guarda baixa
e vem uma porrada do nada que assusta!
Desabei de novo.
Me derrubaram de novo.
Distraí sem pedir socorro!
Choro, sussuro, não perdoo,
sob os escombros de fatos e estorvos
cerro a noite com lágrimas e gliter fosco.

Jenny Faulstich 
(Resende, 06/02/2023)