domingo, 31 de julho de 2022

Acostumada

Estou acostumada
a não ser vista como mulher.
Não significa que não doa
no fundo mais vulnerável da alma.
Pode até parecer que não, 
já que o sorriso sempre esconde
a vista boba da corte e mais nada.
Há uma mulher além das piadas.
Há uma mulher além dos corres.
Há uma mulher além das muletas.
Há uma mulher de desejos e sentimentos
não correspondidos, ignorados, subjugados!

Jenny Faulstich 
(Resende, 30/07/2022)

Pós

Lamento sua troca
E o tempo que passou
Nosso momento ficou num desejo
Que só minha mente ocupou.
Era aquele só e definitivamente
Já que agora tudo mudou
Nem a lua, nem amor
Sou seca, velha, diferente,
quilos a menos e nova dor.

Jenny Faulstich 
(Resende, 11/07/2022)

Friendzone

Pensei em lhe dizer o dia inteiro,
agora não sei mais como falar
que quero saber mais sobre você,
não desejo na friendzone ficar
embora seja minha sina estar.
Não queria ser tão precipitada,
mas não sei se saio dessa viva 
de qualquer forma a mesma história
comigo sempre se repetirá!

Jenny Faulstich 
(Rio de Janeiro, 20/06/2022)

3:13

A hora da realidade
que se reflete
em todo ato
próprio e ao redor,
o que é de fato
e o que só parece.

Jenny Faulstich 
(Resende, 05/05/2022)

Meio filtro

Meio filtro
Uma pena
Realidade inteira
Metade sombra 
Dois felinos
Madrugada cheia
Pouca fome
Três moradores 
Sono que não chega.

Jenny Faulstich 
(Resende, 31/03/2020)

Até queria estar "normal"

Até queria estar "normal",
levantar cedo, caçar o que fazer
mas não tenho a mínima vontade.
Levantar pra quê? Sentir dor?!
Os pensamentos já não me deixam mesmo dormir à noite,
vou dormir de dia, quando consigo.
Sonhar com um golfinho com corpo de cavalo,
uma ave grande olha pra ele com desdém,
quando ele me diz que isso "vai passar".
Ele disse algo antes, mas eu esqueci.
Sabia que era importante, mas enfim.
Quando acho uma posição reconfortante
quero ficar para sempre ali,
o ali dura quase nada, até dormir.
Dói até quando durmo, quando sonho.
A camisa incomoda, a calcinha incomoda,
fingir que estou bem, incomoda.
Ao redor, roupas jogadas, sujas ou pra serem guardadas.
Estou com fome e sem vontade de comer.
Ligo a TV qdo penso em sair do quarto e deito de novo, mesmo com um filme ruim.
Preciso trocar a roupa de cama, 
tomar banho, lavar o cabelo, 
beber água e mudar o pijama, 
mas estou tão, cansada...

Jenny Faulstich 
(Resende, 10/09/2019)

Sofro poemas

Sofro poemas que em outra mão se perdeu.
Versos sonhados, vividos e deixados,
lamento e não me desapego.
Só a pessoa sabe do próprio parto,
conhece o calo do apertado sapato.
Minha memória peca
e a bêbada não entrou no beco.
A poesia jaz incompleta
dos dias de cores na charneca.

Jenny Faulstich 
(Resende, 21/05/2019)

Saudade da poesia em minha vida

Saudade da poesia em minha vida
De quando era compromisso 
De quando era rotina...
Arrastei essa linha enquanto podia
Tempo cultural intempestivo 
Mas eu tinha companhia...
Oito deitado surgiu, cresceu e sumiu
Sinto-me sozinha e esquecida
Mas orgulhosa de quem não desistiu.

Jenny Faulstich 
(Resende, 26/04/2019)

Falar de amor

Por favor, vamos falar de amor
Anderson, Marcelo, Marielle,
cada vida que findou
por conta de ganância, ódio, rancor...
Um minuto de paz não temos,
são muitas notícias de dor.

Jenny Faulstich 
(Resende, 11/07/2022)

15 de março

Pagar uma conta, postar um poema...
Quem mandou matar Marielle?
A corja, o vizinho, a familícia!
Uma força matriz ainda chora,
pede justiça para a semente que aflora!
Somos todas Marielle pelo mundo afora.

Jenny Faulstich 
(Rio de Janeiro, 15/03/2022)

Escravos modernos

Manhã, tarde, noite, madrugada
Empreendedorismo de fachada
Leva todos os rangos em qualquer quebrada
Só para poder levar o próprio pão pra casa.

Jenny Faulstich 
(Resende, 02/02/2020)

A fungada q precede a mordida

Fome, vírus, rinite,
o perigo da piada
Não sai do quarto,
da cozinha ou da sala.
Rotina estranha,
vida isolada.
Nada de férias:
fica em casa!!!

Jenny Faulstich 
(Resende, 31/03/2020)

Poetas da quarentena

Produção de versos em alta,
pra tanta luta, haja poema!
Enfermeiros, médicos, pesquisadores,
entregadores, até o pessoal da limpeza,
soldados árduos de altos valores,
linha de frente na guerra pandêmica.

Jenny Faulstich
(Resende, 12/04/2020)

Mais um dia de muita dor

Mais um dia de muita dor!
Acordar por si só já foi um suplício.
Almoçar com um boa notícia 
e a alegria durar tão pouco.
Na sequência foram só cólicas,
dores de cabeça, aspirador de pó,
sintomas e notícias de covid,
saber que perdi mais um amigo
cujo coração não suportou tanta decepção.
Menos um fazedor de trovas, planilhas e sonetos, 
defensor do amor e da justiça social.
Não vou mais encontrá-lo no mercado, nem no pátio,
portanto sempre tê-lo em nosso ideal Oito Deitado:
"A vida tem seu tempo,
Que às vezes foge no vento:
Pura perda de tempo."
Gratidão Mário Augusto, Martins, Guto!

Jenny Faulstich 
(Resende, 29/10/2021)

Socializando nas lives,

Socializando nas lives,
redescobrindo prazeres,
fazendo novas memórias 
e agregando às antigas.
Surpresas reincidentes 
de ausências e presentes,
tudo que a liberdade poética permite
e a mente não sente. Percebe? 
Das seletivas riquezas da quarentena,
tanta coisa que não se mede 
na fluidez do tempo que transcende
mesmo que a vida se acabe.

Jenny Faulstich 
(Resende, 11/04/2020)

Conforto de um sonho

De repente, aquele conforto,
finalmente adormeci com lindos sonhos,
todos bem, eu de quadril novo,
vida fluindo, família, lazer, trabalho
e mais um dia surge sem rosto,
Desperto, deprimo, realizo
uma pandemia consumindo vidas,
um verme competindo iguarias,
criminoso que diz ser fantasia.

Jenny Faulstich 
(Resende, 24/03/2020)

Ficarei insuportável

Estou deficiente, não estou morta!
Lembrarei de cada desdém
quando eu aparentemente "estiver" gostosa.
Esnobarei mesmo, ficarei insuportável,
já que só alguns saibam,
que eu garanto só num beijo,
o pulo do gata!

Jenny Faulstich
(Resende, 11/01/2020)